Coluna

Mapeando o Ecossistema de SporTechs no Brasil

Vamos explorar os principais componentes desse ecossistema e como eles se interrelacionam para fomentar a inovação no esporte

Mapeando o Ecossistema de SporTechs no Brasil

04 de julho de 2024

11 minutos de Leitura

Ivan Ballesteros
Ivan Ballesteros
CEO e fundador da Esporte Educa, primeira EduSportech brasileira com foco em reescrever a relação do esporte com a educação dentro do país

A inovação é um motor essencial para a transformação e o crescimento de qualquer indústria, seja no esporte, na educação, na saúde ou em outras áreas. Diversos atores contribuem para o ecossistema esportivo, cada um desempenhando um papel crucial na criação de soluções inovadoras que impulsionam o nosso mercado.

Vamos explorar os principais componentes desse ecossistema e como eles se inter relacionam para fomentar a inovação no esporte.

Startups: Qual é o tamanho desse ecossistema?

Já discutimos bastante sobre o tema, certo? Resumidamente, as startups são o coração da inovação no esporte. Estas empresas emergentes buscam resolver problemas ou atender às necessidades do mercado de maneira inovadora e escalável. Mas como realmente é esse ecossistema?

As startups esportivas brasileiras, as famosas SporTechs têm mostrado um crescimento impressionante nos últimos anos. O último mapeamento oficial, realizado pela Liga Ventures em 2020 com a ajuda da comunidade Brazil Sportech (BST), identificou 135 startups no setor de tecnologia esportiva. Essas startups se distribuem em diversas categorias, refletindo a diversidade e a inovação no mercado esportivo nacional.

No entanto, muitas dessas empresas enfrentaram o desafio da pandemia, que impactou profundamente a indústria esportiva. O esporte, que depende de contato físico e eventos presenciais, foi uma das áreas mais afetadas, resultando no fechamento de muitas startups inicialmente mapeadas.

Por outro lado, algumas das startups que sobreviveram a esse período difícil conseguiram escalar e crescer significativamente, recebendo investimentos na casa de milhões. Aqui estão alguns exemplos de Startups que conseguiram investimentos relevantes: iSportistics (Nova Mantis.Ai), Fan Base, Appito, Nsports, incluindo a Esporte Educa, fundada por mim. Essas empresas não apenas superaram as adversidades, mas também se destacaram no mercado, mostrando resiliência e capacidade de inovação.

Atualmente, o Arena Hub, um dos maiores centros de inovação esportiva da América Latina, tem mais de 150 startups associadas. Isso indica que, apesar das dificuldades, novas startups continuam a emergir, contribuindo para a vitalidade do ecossistema esportivo. O Arena Hub está inclusive providenciando um novo mapeamento para determinar o tamanho real do ecossistema de SporTechs brasileiras.

Outro ponto importante, discutido no painel do Sport Summit 2024, onde fui speaker ao lado de Fernando Patara (Arena Hub), Arthur Bezerra (Slat Ventures), Vitor Marini (Retize) e Pedro Oliveira, Founding Partner da Outfield e colunista aqui no MKT Esportivo, é a maturidade das soluções que sobreviveram. Estas startups já passaram pelo “vale da morte” e desenvolveram tecnologias robustas para resolver problemas relevantes, lideradas por fundadores experientes com histórico de sucesso no mercado.

Da esquerda para a direita: Fernando, Pedro, Eu, Vitor e Arthur

Além disso, a profissionalização do mercado esportivo, impulsionada pelo movimento das SAFs (Sociedades Anônimas do Futebol) e a entrada de investidores profissionais, junto com a evolução do venture capital, que agora direciona mais atenção ao esporte, também têm desempenhado um papel crucial neste processo. A inovação e o foco de pessoas envolvidas em clubes e entidades esportivas estão fortalecendo ainda mais este ecossistema.

Essas mudanças sinalizam uma nova era para as sportechs brasileiras, onde a resiliência e a inovação são recompensadas com oportunidades de crescimento e investimento, contribuindo para um ecossistema esportivo cada vez mais forte e dinâmico.

No próximo episódio, vamos falar sobre como o mercado de investimento em startups está alocando seus recursos no esporte, quem são os grandes atores do Brasil e como está a movimentação no resto do mundo e suas tendências globais.

Mas não vamos pensar no próximo episódio ainda. Vamos continuar a falar sobre o ecossistema que circunda as startups. Afinal, se elas são o coração da inovação, precisam de outros órgãos igualmente importantes para sobreviver. Sem esses componentes essenciais, as empresas que citei até agora não estariam vivas.

Mentores e Advisors:

Especialistas em Esportes, Tecnologia, Negócios e Marketing

Mentores desempenham um papel vital no desenvolvimento de startups, oferecendo conselhos e insights baseados em suas vastas experiências. Especialistas em esportes, tecnologia, negócios e marketing ajudam os fundadores a navegar pelos desafios do mercado, a refinar suas estratégias de negócio e a otimizar seus produtos e serviços. A mentoria pode ser o diferencial que permite a uma startup superar obstáculos e alcançar o sucesso.

Talvez você não conheça alguém, mas uma dica que eu dou é: o Linkedin pode te ajudar. Aqui um abraço especial aos meus mentores: André, Bivar, Daniel e Patara.

Incubadoras, Aceleradoras e Hubs: Suporte, Conexões, Estudos e Recursos

Incubadoras e aceleradoras são organizações que fornecem suporte abrangente para startups em estágio inicial. Elas oferecem desde espaço físico e recursos até programas de mentoria intensiva e acesso a redes de investidores. Essas organizações ajudam as startups a validar suas ideias, desenvolver seus produtos e acelerar seu crescimento.

No Brasil, exemplos notáveis fora do esporte são o InovaBra e o Cubo Itaú. Falando especificamente de esportes temos o Arena Hub. Localizado em São Paulo, dentro do Allianz Parque, é o maior centro de inovação e de desenvolvimento do empreendedorismo com foco em esportes e entretenimento da América Latina com mais de 150 startups associadas, 150 entidades esportivas e 2 programas de aceleração.

Venture Builder ou Startup Studio: A famosa fábrica de startups

Uma Venture Builder, também conhecida como Startup Studio ou Company Builder, é uma organização que cria, desenvolve e financia startups de forma sistemática. Diferente de incubadoras ou aceleradoras que fornecem apoio e mentoria para startups já existentes, as venture builders criam startups internamente do zero ou a partir de suas próprias ideias ou conceitos trazidos por empreendedores. Nesse grupo, podemos citar a Sportecha. Apesar de contar com um campus de inovação impressionante para hospedar startups, seu foco principal é ser uma venture builder. Pelo que sei, é a única empresa a atuar nesse segmento na América Latina, destacando-se pelo seu pioneirismo.

A Sportheca é uma fábrica de startups que constrói negócios inovadores por meio de tecnologia e análise de dados para o mercado esportivo. A OneFan, a primeira build da Sportheca, conta com a parceria do Grupo SBF (Centauro, Nike e NWB) como sócio. Seu objetivo é impulsionar uma nova cultura no mercado de entretenimento esportivo e aumentar o engajamento dos fãs.

Clubes e Entidades Esportivas: Parceiros e Clientes Potenciais

Clubes e entidades esportivas são parceiros estratégicos e, também, potenciais clientes para startups. Essas organizações buscam constantemente melhorar o desempenho de seus atletas, aumentar o engajamento dos fãs e otimizar suas operações. Ao colaborar com startups, clubes e entidades esportivas, podem adotar novas tecnologias e soluções inovadoras, fortalecendo suas próprias capacidades e oferecendo melhores experiências para seus stakeholders. Alguns clubes de tempos em tempos anunciam a criação de hubs de inovação, mas confesso que nunca vi muitos resultados concretos. Caso algum leitor tenha mais informações ou trabalhe em clubes, adoraria saber mais sobre o assunto. Quando o quesito é inovação, menciono o trabalho da minha amiga Débora, que atua como Head de Inovação no Atlético MG, um clube que se sobressai pela adoção de novas tecnologias.

Marcas Patrocinadoras: Apoio à Inovação no Esporte

Marcas patrocinadoras, como a Ambev, desempenham um papel crucial no ecossistema de inovação esportiva. A Ambev, mantenedora do Arena Hub, promoveu o Desafio Golaço, fornecendo financiamento, promovendo novas tecnologias, legitimando startups e facilitando sua entrada no mercado. Campanhas de marketing colaborativas aumentam ainda mais a visibilidade e o alcance das soluções inovadoras.

Governo e Instituições Públicas: Apoio e Regulamentação

O governo e as instituições públicas podem fornecer o apoio necessário para o desenvolvimento da inovação no esporte, seja por meio de políticas públicas, incentivos fiscais ou programas de financiamento. Além disso, regulamentações apropriadas garantem que as novas tecnologias e soluções sejam implementadas de maneira segura e eficaz.

Academia e Instituições de Ensino e Pesquisa:  Conhecimento Técnico e Pesquisas

A academia e as instituições de ensino e pesquisa são essenciais para a inovação no esporte. Elas conduzem pesquisas avançadas que impulsionam novas tecnologias esportivas. Colaborações entre startups e universidades geram soluções pioneiras, beneficiando a indústria esportiva. A Esporte Educa, por exemplo, nasceu na instituição de ensino onde estudei, demonstrando o impacto dessas parcerias. Além disso, essas instituições podem oferecer cursos para preparar seus alunos, formando a próxima geração de empreendedores e especialistas no setor.

Gostaria de fazer uma citação especial ao querido João Gustavo Claudino, PhD, organizador da obra mais completa sobre o tema no Brasil. Recomendo fortemente a leitura.

Eventos: Feiras e Summits de Inovação

Eventos especializados, como feiras e summits de inovação, são essenciais para a troca de ideias, networking e visibilidade. Reúnem empreendedores, investidores, mentores e outros stakeholders do ecossistema de inovação esportiva, facilitando colaborações e parcerias. Além disso, oferecem oportunidades para startups apresentarem suas soluções a um público amplo e obterem feedback valioso.Entre os principais eventos generalistas no Brasil, destacam-se o WebSummit, Vamos Latam Summit (Latitud), Gramado Summit e Rio Innovation Week, no qual já tive a honra de palestrar. Vale mencionar que, embora sejam generalistas, alguns desses eventos incluem paineis específicos sobre esportes.

Em relação aos eventos específicos do esporte com espaço para startups, temos a Confut Sudamericana, Confut Nordeste, Conafut e SportSummit, que consegue abordar não apenas o futebol, mas também outros esportes.

Challenges e Premiações: Reconhecimento e Aceleração das Melhores Ideias

Challenges e premiações são iniciativas que visam reconhecer, divulgar e acelerar as melhores ideias no mercado esportivo. Esses concursos incentivam a inovação ao oferecer prêmios em dinheiro, mentoria e oportunidades de investimento para as startups vencedoras. Participar de challenges e premiações pode ser um marco importante para startups, proporcionando reconhecimento e recursos para crescerem e se destacarem no mercado.

A Esporte Educa é prova de que vencer esses desafios ajuda a levar a empresa mais longe. Tivemos a honra de ganhar mais de 12 premiações nacionais e participar de eventos internacionais em Dubai e Munique, que projetaram nossa marca no cenário global. Entre os eventos esportivos, destacamos o Prêmio Sou do Esporte, o Fórum SP de Empreendedorismo no Esporte, o Challenge Confut e os challenges organizados pelo Arena Hub.

Conclusão

O ecossistema de inovação no esporte é dinâmico e multifacetado, composto por uma rede interconectada de atores que colaboram para impulsionar o setor. Desde startups inovadoras e investidores estratégicos até mentores experientes e instituições acadêmicas, cada componente desempenha um papel crucial no desenvolvimento de soluções que transformam o esporte. Ao entender e aproveitar essas interações, podemos acelerar a evolução da indústria esportiva e criar um futuro repleto de oportunidades e inovações.

Você deve estar se perguntando: Ué? E os investidores? Faltou falar de um dos atores principais, o pulmão que muitas vezes dá o ar para a empresa continuar respirando até validar e escalar: o capital de risco. Se faltar ar para o coração (a startup), ela morre. Esse tema é tão importante e complexo que farei um episódio especial sobre ele na semana que vem.

Não perca o próximo episódio, onde exploraremos a fundo o papel dos investidores e o impacto do capital de risco no sucesso das startups esportivas, te vejo na semana que vem!

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